domingo, 24 de maio de 2009

Conferência internacional abre com chave de ouro

Moisés Martins, presidente do Instituto de Ciência Sociais (ICS); Manuel Pinto, director do CECS; Denis McQuail, professor Jubilado da Universidade de Amesterdão; e, Helena Sousa, presidente da Comissão Organizadora, foram os convidados que cortaram a fita vermelha da conferência internacional “Jornalismo na Europa: Quem precisa de regulação?”, que teve lugar na Universidade do Minho, em Braga, no dia 15 de Maio.


(Convidados da Sessão de abertura. Foto: Mariana Sá)

Presidente do ICS abre conferência: “Jornalismo na Europa – Quem precisa de regulação?”

(Moisés Martins no lado esquerdo. Foto: Mariana Sá)

Moisés de Lemos Martins abriu a conferência “Jornalismo na Europa – Quem precisa de regulação?” afirmando que “os média são um veículo declarado com o espaço público e com os valores da sociedade democrática” e que por isso têm “um compromisso de cidadania. Um compromisso para a construção de uma sociedade justa, equitativa e do bem público”.
Para o Presidente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, “toda a regulação dos média não pode contrariar estas premissas”. Afirma ainda que “o jornalismo tem que ter um desassossego crítico” opondo-se assim a “uma homogeneidade que empapa”.

Para Moisés de Lemos Martins a regulação dos média tem que ser feita a partir de “uma insurgência reflexiva contra os estados de poder que são produzidos nas empresas dos média”.

(Texto: Pedro Silva)

"A regulação é um assunto de todos”

(Helena Sousa, Presidente da Comissão Organizadora. Foto: Mariana Sá)


Helena Sousa referiu que a “regulação não é só um assunto de jornalistas e académicos, é de todos”.
Numa breve apresentação de Denis McQuail, a presidente da Comissão Organizadora fez rasgados elogios ao académico, lembrando que este “publicou abrangente e intensivamente sobre vários temas” e que “não há um único estudante [de Ciências da Comunicação] que não conheça” o seu livro “Mass Comunnication Theory”.
Em semana de festejos académicos, a presidente da Comissão Organizadora mostrou agrado por ver na plateia bastantes alunos, apesar da “concorrência feroz” do Enterro da Gata.


(Plateia na Sessão de abertura. Foto: Mariana Sá)


(Texto: Pedro Silva)

Verdade e responsabilidade como factores de auto-regulação no Jornalismo

(Denis McQuail, Prof. Jubilado da Universidade de Amesterdão. Foto: Mariana Sá)

Foi sob o tema “Jornalismo na Europa: Quem precisa de regulação?” que Denis McQuail defendeu que, mais do que uma hetero-regulação, a prática jornalística deve obedecer aos princípios de verdade e de responsabilidade para com a sociedade. A auto-regulação torna-se assim um elemento essencial quando McQuail fala de “profissionalismo” jornalístico. O Código de Ética e o conceito de Serviço Público são também pilares nos quais o jornalismo deve assentar, afirmou o professor.
Segundo Denis McQuail, Jornalismo e Sociedade estão intrinsecamente ligados, isto porque, cada vez mais o cidadão precisa de conhecimento credível. Com a abertura do espaço público a novas vozes e novos canais é cada vez mais urgente filtrar a informação que nos chega, acrescenta. McQuail considera que sem a função de gatekeeper viveríamos na ignorância, como tal, cabe aos media enquanto Serviço Público assumir esse papel.


(Texto: Elsa Costa)

“Temos uma pedra no sapato”

(Manuel Pinto no lado esquerdo. Foto: Mariana Sá)


Manuel Pinto acredita que, no que diz respeito à regulação, “temos uma pedra no sapato”, longe de estar resolvida, e por isso considera necessário fazer uma reflexão e debater este assunto.
O Director do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade salientou, também, o facto de o ‘
Euromedia Research Group
’ ter sido recentemente congratulado com o nível de excelência, enquanto grupo de pesquisa.
Para os anos vindouros espera que haja mais investigação produzida a partir das questões identificadas na sociedade. E que a investigação feita na Universidade do Minho, onde lecciona, possa ser mais internacionalizada.
Estas declarações foram no âmbito de uma conferência, realizada na Universidade do Minho, com o tema “Jornalismo na Europa – Quem precisa de regulação”.


(Texto: Hélia Lima)

Augusto Santos Silva: Poderes e contra-poderes nos media

O ministro dos Assuntos Parlamentares, Santos Silva, começou a sua longa intervenção referindo, em tom de brincadeira, que partilhava “com Moisés das mesmas desconfianças em relação ao poder político”.

Pegando na questão que deu nome à jornada e que consistia em “Jornalismo na Europa: Quem precisa de Regulação?”, o ministro começou por dizer que a democracia precisava de regulação. Neste ponto, segundo Santos Silva, “o que aqui justifica a regulação dos media é o princípio de que não deve haver poder que não seja limitado”.
A partir daqui, o ministro fez uma reflexão sobre a existência de poderes e contra-poderes, em que, os contra-poderes limitavam a acção dos poderes. Ao início considerava-se os media contra-poderes, não podendo por isso, serem limitados. Neste momento, “os Órgãos de Comunicação Social constituem um dos principais poderes das sociedades modernas e devem ser sujeitos às mesmas formas de escrutínio e limitação”, referiu Santos Silva. O poder é, segundo o ministro, uma capacidade para “efectivar acções”. Deste modo, torna-se necessário haver regulação para se “fortalecer esse poder e cuidar para que os principais instrumentos de que dispõe sejam cumpridos por todos, inclusive pelos próprios media”, garantiu. Qualquer pessoa que se sinta visada por uma reportagem tem o direito de pedir uma rectificação, ou seja, “a liberdade de imprensa tem de suportar os direitos dos outros autores”, referiu. O Ministro referiu que antes os media não aceitavam passar os direitos de resposta e que depois o começaram a fazer, ainda que de forma discreta, remetendo-os para a rubrica da “carta do leitor”. Em contrapartida, hoje não há um órgão de Comunicação, especialmente na imprensa, que não respeite o direito de resposta e o direito de rectificação. O ministro lançou um paralelo com as televisões, onde os direitos de respostas são lidos com “vontade de comer palavras” como se fossem “enunciados vertiginosos”, algo que não deveria acontecer. “Mais ano menos ano, passaremos à fase em que o direito de resposta vai ser completamente respeitado”.

É necessário “salvaguardar a independência face ao poder político”, por isso, a regulação não pode ser feita pelo poder político, mas por entidades reguladoras exteriores ao poder, assegurou Santos Silva.

Voltando à questão de “Quem precisa de regulação?”, o ministro dos Assuntos Parlamentares, referiu que “os públicos precisam da regulação dos media enquanto beneficiários e sujeitos dessa regulação”. Os públicos precisam que sejam respeitados os direitos de personalidade e, desta forma, “o que prevalece? O direito de personalidade ou a liberdade de imprensa?”, questionou Santos Silva. E, de outra forma, os públicos precisam de regulação porque ela lhes garante um maior pluralismo e uma menor concentração, concluiu.
“Os próprios media precisam de regulação”, lançou o ministro, voltando à questão. Isto para que as “regras de concorrência sejam respeitadas”.

E, por último, os Jornalistas e o Jornalismo como profissão precisam de regulação. Este aspecto, foi explicado de seguida por Santos Silva: “o maior beneficiário da regulação é a classe e a profissão, pois um indivíduo que não cumpra as regras, está a pôr em questão a credibilidade de todos os profissionais e de toda a classe”.
O ministro explicitou, de seguida, qual o caminho que se deveria seguir: “para que o mundo da regulação seja perfeito importa que a dimensão da regulação profissional dos jornalistas seja de auto-regulação”. Segundo o próprio, a regulação faz-se em nome de qualquer coisa: “princípios e valores, preceitos constitucionais com aplicação directa, disposições legais, obrigações contratuais, códigos deontológicos, légis artis, variados corpos normativos, etc. Portanto, a reflexão sobre a regulação deve ser sobre esse enquadramento normativo”.

Em jeito de conclusão, o ministro referiu-se ao caminho que ainda se tem de percorrer e lançou uma pertinente questão que se prende comas regras deontológicas dos jornalistas. Algumas delas não se cumprem e se não se cumprem, “o problema não estará na regra?”, questionou. Deveriam mudar-se, então, as regras e não os comportamentos? Quanto a isso, Santos Silva considera que “mudar não, cumprir”.

(Texto: Cláudia Fernandes)

Manuel Pinto: Objectivos cumpridos

Manuel Pinto começou por referir que se tinham cumprido os objectivos da jornada e agradeceu a disposição dos convidados que à Universidade do Minho se deslocaram, nomeadamente o presidente da ERC, uma vez que este facto permitiu que a regulação fosse debatida fora dos quadros da própria entidade.

De seguida, o Director do CECS referiu que o respectivo centro tinha duas grandes oportunidades de desenvolvimento em mãos: uma era o lançamento do Doutoramento em Ciências da Comunicação no próximo ano lectivo, que vai permitir a reunião de recursos e o aprofundamento de conhecimentos na área; a outra é a realização de um Congresso da Associação de Comunicação de Massas em Portugal, a acontecer no próximo ano.

Manuel Pinto falou ainda da literacia mediática e digital, tendo referido que não foi abordada de forma directa na jornada, dizendo que cabe aos vários parceiros, ao Estado, ao público desenvolver a “iniciativa de um plano superior que trate fundamentalmente da regulação”.

(Texto: Cláudia Fernandes)

Moisés de Lemos Martins: " Responsabilidade de se responder pela política estatal no que toca aos media ”

No seu pequeno discurso na cerimónia de encerramento desta jornada sobre a regulação dos Media, o presidente do ICS falou na “responsabilidade de se responder pela política estatal no que toca aos media”. Moisés de Lemos Martins considera que um académico não deve bajular um político, mas distanciou-se um pouco desta sua condição, tal como referiu, traçando em breves palavras o perfil do ministro dos Assuntos Parlamentares Santos Silva, referindo que o mesmo tem “apoiado as iniciativas do CECS.”

(Texto: Cláudia Fernandes)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Josef Trappel alertou para o jornalismo "limitado e superficial"



“Tempos de mudança exigem mais regulação e não menos”. Foi esta a resposta de Josef Trappel à questão “Jornalismo na Europa: Quem precisa de regulação?”. Segundo o coordenador do EuroMedia Research Group a política dos media tem vindo a mudar: Cada vez mais obedece à pressão pública e à política de mercado. É neste sentido que Trappel fala de regulação, concentração e da necessidade de controlar “a lei dos grandes grupos”.
Trappel alertou ainda para o facto de os media estarem a perder o poder económico e, consequentemente, a pôr em causa a função de Serviço Público. Na verdade, as redacções têm cada vez menos jornalistas e estes têm cada vez mais trabalho. Neste sentido, “as notícias de agência são muitas vezes publicadas na íntegra”, principalmente na Internet, alerta o professor da Universidade de Viena. Os jornalistas não têm tempo de analisar a informação, confirmar fontes e recolher segundas opiniões, diz. “E o que mais me preocupa é que grande parte dos jovens obtêm a informação dessa forma – muito limitada e superficial”, declarou Trappel.
Foto: Mariana Sá
Texto: Elsa Costa

Tunstall afirma que “o blogue é um modelo menos atraente para o Jornalismo multi-plataforma"

( Foto: Mariana Sá; texto: Ana Teixeira)

Jeremy Tunstall começa por dizer que os jornalistas americanos e britânicos entendem que não é preciso regular a liberdade dos media. o entanto, nos EUA e Reino Unido os media são regulados.
Nos EUA há empresas de Hollywood que funcionam no modelo de concentração vertical de media, por exemplo, a Associated Press é uma presença dominante, que fornece serviços a muitos meios de comunicação.
Tunstall deu também a imagem dos meios de comunicação na Inglaterra: a BBC detém 60% do conteúdo televisivo que é visionado; cinco jornais britânicos têm agora uma grande fatia de leitores on-line, note-se que o Guardian tem 20 milhões de leitores exclusivamente on-line. Esta era faz os grandes diários perderem credibilidade e como é o caso do New York Times que viveu tempos de crise.
Frisa ainda que 20% da audiência de rádio é feita através da Internet e este novo mundo obriga um jornalista a saber trabalhar nos diversos meios.
Segundo Tunstall, “o blogue é um modelo menos atraente para o Jornalismo multi-plataforma”.
No entanto faz uma boa comparação dizendo que “é possível aceder a 470 canais na Internet subscrevendo o serviço de apenas uma estação televisiva, mas não é possível ler todos os livros numa livraria, assim como não é possível ver 470 canais”
A UE não fiz o esforço necessário para equilibrar políticas de media. Somos relutantes a aceitar isto, mas existe um cartel de media nos EUA

Josef Trappel

Uma grande empresa de comunicação pode contornar as leias, na Alemanha

(Hans Kleinsteuber, professor Jubilado da Universidade de Hamburgo. Foto: Mariana Sá)

Hans Kleinsteuber explicou a situação vivida na Alemanha no que diz respeito à regulação da Comunicação Social, numa conferência que ocorreu na Universidade do Minho.
Segundo Kleinsteuber, na Alemanha só existe uma ‘regulação simbólica’ para a Comunicação Social, que pode ser subvertida a qualquer momento por um advogado mais astuto. O professor e investigador afirmou ainda que uma empresa mediática de grandes dimensões pode contornar as leis e obter tudo o que quer.
Hans Kleinsteuber teceu também críticas às políticas do Governo do seu país, Alemanha. Segundo ele o país permite todo o tipo de investimento financeiro estrangeiro, o que fez com que as suas maiores empresas, como a “Pro Sieben” ou “Sat 1”, tenham sido compradas por empresas estrangeiras, enquanto que outros países, por exemplo os Estados Unidos, não permitem este tipo de investimentos.

Texto: Hélia

Kees Brants

Hans Kleinsteuber

Hans considera Alemanha como "maior produtora de conteúdos Mediáticos"



No que diz respeito à confidencialidade das fontes, o professor alemão, Hans, explicou que no seu país o jornalista não é obrigado a revelá-las, mesmo em juízo. No entanto, o jornalista responde perante um concílio de jornalistas, do qual fazem parte editores e jornalistas, que deliberam sobre vários assuntos, e podem desaprovar o seu comportamento.
Em contraste com a situação vivida actualmente, o investigador da universidade de Hamburgo referiu os tempos do regime nazi, no qual os media eram usados como meio de propaganda das ideologias de Hitler. Nessa altura, nada podia ser publicado sem ter sido anteriormente analisado pelo Governo.
Na opinião de Hans, a Alemanha é a "maior produtora de conteúdos mediáticos da Europa", e até deu o exemplo de um jornal inteiramente feito por leitores, onde os interesses económicos e privados não têm lugar.


Foto: Marina Sá

Texto: Hélia

'O provedor deve ser independente da empresa'

Adelino Gomes, Provedor do Ouvinte da RDP

A última exposição da mesa foi feita por Adelino Gomes, que ocupa o cargo de Provedor do Ouvinte da RDP há 11 meses. O convidado começou por dizer que o cargo, apesar de existir no estrangeiro há muitos anos, chegou a Portugal apenas há três.

No início, a RDP quis instituir a figura do provedor, como o orador referiu, para que servisse de “álibi de uma empresa completamente à deriva”. Acrescentou que naquele momento “não havia credibilidade na RDP e iam usá-lo [ao provedor] para conseguir isso”. Adelino Gomes referiu que a lei garante que o provedor tem de ser uma pessoa independente da empresa. O facto de não pertencer à entidade, faz com que “o provedor que aceite o cargo avance com o conforto de que não vai para ser um pau-mandado da administração; só o será se for um corrupto mentalmente”, explicou.
















(Adelino Gomes falou da figura do provedor. Foto: João Figueiredo)

Quando aceitou a função, o provedor tinha algumas convicções em mente. Uma delas era que iria estar “entre dois focos”: o olhar de soslaio dos ouvintes e a acusação dos profissionais de ter “cuspido no seu trabalho”. Outra era que não ia ser importante a sua opinião pessoal, mas sim o que ia veicular no seu programa semanal. Por último, ter êxito na sua função, significaria que teria tido sucesso no “jogo de três vozes: recepção, estrutura e campo profissional”.

Ao fim de seis meses no cargo, fez um balanço positivo quanto ao “relacionamento com ouvintes, campo profissional e administração”, uma vez que ultrapassou as dificuldades. Noutro ponto, garantiu que conseguiu enquadrar-se entre os dois focos, ainda que as suspeitas por parte dos ouvintes e dos profissionais continuem. Da parte dos ouvintes, as desconfianças provocam uma certa falta de credibilidade, porque estes questionam a programação e a linha editorial.

No que toca aos profissionais, o Provedor confessou que sente que ainda “não interiorizaram a noção de serviço público onde estão integrados”. O orador considera importante a formação contínua dos profissionais. Um dos campos a rever é o da língua portuguesa, pois acha “inadmissível os erros que se cometem”. Também deveria merecer atenção as técnicas vocais e ainda a missão de serviço público.

A finalizar, Adelino Gomes garantiu que ainda não viu “interacção entre os três pólos”, o da administração, o da recepção e o do campo profissional.

(Texto: Claúdia Fernandes)

'Melhor época para fazer jornalismo, pior época para ganhar a vida a fazer jornalismo'

Afonso Camões, Presidente do Conselho de Administração da Lusa

Afonso Camões surgiu nesta conferência para dar a visão de regulação do ponto de vista das empresas de comunicação. Pegando na deixa de Azeredo Lopes, Afonso Camões disse ser “conveniente haver regulados” para haver reguladores. Acrescentou ainda que “nunca houve melhor época para fazer jornalismo, nem nunca houve pior época para ganhar a vida a fazer jornalismo”.





















(Afonso Camões diz que o sector atravessa período difícil por causa da falta de receitas. Foto: João Figueiredo)

O presidente do Conselho de Administração da Lusa lamentou o período complicado que o sector está a passar, recordando que os media tradicionais vêem o dinheiro entrar por duas portas: pela circulação e pela publicidade. “Do lado da circulação o desastre é total”, assegurou, uma vez que as vendas se devem às ideias criativas do Departamento de Marketing e não ao conteúdo do jornal. “A publicidade é o que move a indústria, mas as receitas estão a cair a pique”, concluindo que a procura de alternativas continua a não resultar.

Quanto à regulação, Afonso Camões é peremptório ao afirmar que deve existir regulação. E para além da regulação deve haver auto-regulação. O orador garantiu que há objectos legais suficientes para funcionar, no entanto os instrumentos estão “subaproveitados”, pois deles poderia ser feito melhor uso. Afonso Camões disse que cerca de 90% dos assuntos que se levam a Conselho de Redacção, são assuntos que não têm a ver com a sua área de acção. Este facto revela a “obstinada ignorância” das redacções, no que tem a ver com os “seus” negócios.

Ao finalizar, o orador lançou uma espécie de crítica à entidade reguladora:“Há coisas em que a ERC devia meter a mão e não mete”. Para Afonso Camões “a publicidade e a circulação precisam de ser auditadas”.

(Texto: Claúdia Fernandes)

Muitos 'olhares cruzados' na profissão de jornalista

Alfredo Maia, presidente do Sindicato de Jornalistas

Nos primeiros quatro meses do ano, 99 jornalistas já pediram subsídios de desemprego. Foi desta forma que Alfredo Maia, presidente do Sindicato de Jornalistas, iniciou a sua intervenção. O dado pareceu ainda mais relevante e assustador, quando o próprio o comparou com os números totais do ano de 2008: 96. A isto, o sindicalista chamou “consequências da crise”.

Atentando no título do painel “Olhares cruzados sobre as práticas de Regulação em Portugal”, Alfredo Maia disse haver três aspectos interessantes a ter em conta: um é a multidão de olhares exteriores sobre a forma como se exerce a profissão; outro é os olhares dos jornalistas sobre si mesmos; por último, os olhares que passam a ser possíveis de construir, estes partilhados por jornalistas e por empresas.






















(Alfredo Maia criticou retaliações das entidades à forma de fazer jornalismo. Foto: João Figueiredo)

O presidente do Sindicato salientou que a profissão de jornalista é das mais escrutinadas em Portugal e que esse escrutínio é feito de muitas formas. As pessoas “ao comprarem este jornal e não aquele, já escrutinam o trabalho do jornalista, as pessoas que são objectos de notícia, podem exercer o direito de resposta e estão a escrutinar”.

Alfredo Maia acrescentou ainda, a retaliação que as entidades fazem em relação à forma como se faz jornalismo, este um escrutínio ilegítimo, assim como o recurso aos tribunais, onde os crimes cometidos pelos órgãos de comunicação têm pena agravada e a intervenção de outras entidades com poder de regulação (ERC, por exemplo), também são formas de escrutínio.

O sindicalista afirmou que “o desenvolvimento de redes de comunicação alternativa são outra forma de escrutínio”. Este ponto, é uma espécie de “Revolta dos Escravos”, porque estes se sentem descontentes com os media e procuram recolher eles a informação, sendo mediados por essas redes.

Alfredo Maia referiu que houve uma evolução na Comissão da Carteira Profissional por força da revisão do Estatuto do Jornalista. Segundo o presidente do Sindicato, esta passou a ter competências disciplinares: “foi criada uma secção disciplinar e foi aprovado o regulamento”, que entrou em funcionamento no passado Outono, não contendo, até agora, muitas queixas.















(Primeira sessão da tarde debateu os "Olhares cruzados sobre as Práticas de Regulação em Portugal”. Foto: João Figueiredo)

E quanto ao futuro do Conselho Deontológico? Terá este órgão um futuro? “O Conselho Deontológico tem todo o futuro”, garantiu, explicando que existem vários motivos para isso: “a Comissão da Carteira não esvazia o Conselho Deontológico, até porque é um órgão dentro do Sindicato; o Conselho continua a ser um órgão conhecido e representativo” em termos, por exemplo do sigilo profissional, garante que o que a lei do Processo Penal consagra ao jornalista seja cumprido; outro dos motivos é que o Conselho é a matriz identitária única do Sindicato dos Jornalistas. No dia em que perdesse o Conselho Deontológico, passava a ser como os demais sindicatos.

Quanto à auto-regulação no sector, Alfredo Maia falou numa tentativa de experiência de Conselho de Imprensa, terminando, assim, a intervenção. Isso levava ao “levantamento e avaliação das respostas de auto-regulação existentes e ao levantamento das necessidades do sector”.

(Texto: Claúdia Fernandes)

Regulação importante para Liberdade de Imprensa e reforço do Estado Democrático

José Azeredo Lopes, Presidente da ERC

Com o auditório repleto de alunos de comunicação, docentes e profissionais da área, o presidente da ERC abriu o seu discurso salientando a importância da regulação da comunicação para o “reforço do Estado democrático e da própria liberdade de imprensa”. Garantiu que com a criação da Entidade Reguladora se construiu um ambiente de regulação em Portugal.

Para haver regulação nas “Capelas Imperfeitas”, como referiu Azeredo Lopes, é necessária a articulação entre auto, hetero e co-regulação. Neste ponto, o orador referiu, ainda, que a hetero-regulação deve ser a última instância.






















(Azeredo Lopes fala do significado do aumento do número queixas na ERC. Foto: João Figueiredo)

De seguida, elucidou sobre as obrigações que a Entidade tem. Neste aspecto, a ERC é obrigada a “proteger os direitos dos jornalistas e deve actuar de forma não discriminatória em relação aos regulados”. Azeredo Lopes explicou este segundo tópico, na medida em que se “deve manter uma atitude independente das relações de poder”, criticando os ‘grandes’ da mesma forma que se critica os ‘pequenos’. Se esta situação não se verificar, está-se a cometer injustiça e desregulação, como o próprio afirmou. Acrescentou, ainda, que a ERC não exerce jurisdição sobre os jornalistas, mas sim sobre Órgãos de Comunicação.

Foi com agrado que o presidente da ERC referiu que o número de queixas tinha aumentado. No ano de 2008 (342) o número foi superior ao dobro do registado no ano antecedente (125). Estes números devem-se a quê? O mesmo explicou que se devem a uma conjunção de factores, nomeadamente, a uma “melhor promoção e conhecimento dos direitos próprios” [ndr: direito de resposta], ao facto de uma queixa na ERC ter enormes vantagens em relação a outros mecanismos (é grátis) e a decisão é mais rápida do que se procurado o meio judicial.

Azeredo Lopes
fez, de seguida, um balanço do seu mandato, considerando que este tem sido pesado e com alterações profundas no sector, com a renovação das licenças dos operadores privados e criação do caderno de encargos, entre outros. No entanto, revelou com satisfação, que “o trabalho tem permitido reforçar o conhecimento dos media em Portugal”.

A crise que se vive actualmente, também mereceu atenção por parte do orador, que se mostrou preocupado com os efeitos nos órgãos de comunicação. Recorrendo a uma metáfora, referiu que cada despedimento, cada órgão de comunicação que fecha provoca danos na liberdade de imprensa. “Cai um ramo da árvore” e isso traduz-se numa menor diversidade e pluralidade.

Concluiu, em seguida, a sua intervenção com uma tirada que serviu de deixa para companheiros de mesa: ”Para haver reguladores, tem de haver regulados”.

(Texto: Claúdia Fernandes)

Tarde: dois momentos marcaram a agenda

No que toca à parte da tarde, dois momentos marcaram a agenda. O primeiro, a acontecer às 15h, subordinou-se ao tema: “Mesa redonda: Olhares cruzados sobre as Práticas de Regulação em Portugal”. O momento reuniu José Azeredo Lopes, presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas, Afonso Camões, presidente do Conselho de Administração da Lusa e Adelino Gomes, provedor do ouvinte da RDP. A moderação esteve a cargo do Investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) Joaquim Fidalgo.













(Convidados do primeiro painel da tarde. Em cima da mesa vários os olhares sobre a profissão de jornalista. Foto: João Figueiredo)

O segundo momento estava marcado para as 17h. A sessão de encerramento desta jornada da Regulação contou com a presença do Ministro dos Assuntos Parlamentares Augusto Santos Silva, com o presidente do Instituto de Ciências Sociais (ICS) Moisés de Lemos Martins e com o director do CECS Manuel Pinto.














(Sessão de encerramento "Jornalismo na Europa: quem precisa de regulação?". Foto: João Figueiredo)

(Texto: Claúdia Fernandes)

Augusto Santos Silva

Helena Sousa

Sofia Gomes

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Painel da Tarde - Sessão de Encerramento

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Programação

A conferência internacional “Jornalismo na Europa: Quem precisa de regulação?”, terá lugar na Universidade do Minho, em Braga, amanhã, a partir das 9h30, no CPII. A entrada é livre.

O evento “pretende aproximar perspectivas diferenciadas sobre as profundas transformações que estão hoje a ocorrer no campo jornalístico e respectivos desenvolvimentos ao nível dos mecanismos de regulação. Os desafios colocados pela digitalização dos conteúdos, pela proliferação das plataformas e pelo crescimento exponencial de participantes na esfera pública digital estarão em cima da mesa”.

Programa

9h30: Sessão de Abertura
Moisés de Lemos Martins, Presidente do Instituto de Ciências Sociais
Manuel Pinto, Director do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade
Denis McQuail, Prof. Jubilado da Universidade de Amesterdão
Helena Sousa, Presidente da Comissão Organizadora

10h30 Intervalo para café

10h45: Reflectindo sobre a Incerteza: Quadros de Referência para Pensar a Regulação
Josef Trappel, Coordenador do EuroMedia Research Group e Professor da Universidade de Viena
Jeremy Tunstall, Professor Jubilado da City University, Londres
Kees Brants, Professor da Universidade de Amesterdão
Hans Kleinsteuber, Professor Jubilado da Universidade de Hamburgo
Moderação – Elsa Costa e Silva, Investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade

12h45 Intervalo para almoço

15h00: Mesa Redonda – Olhares Cruzados sobre as Práticas de Regulação em Portugal
José Azeredo Lopes, Presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social
Alfredo Maia, Presidente do Sindicato de Jornalistas
Afonso Camões, Presidente do Conselho de Administração da Lusa
Adelino Gomes, Provedor do Ouvinte da RDP
Moderação – Joaquim Fidalgo, Investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade

17h00: Sessão de Encerramento
Augusto Santos Silva, Ministro dos Assuntos Parlamentares
Moisés de Lemos Martins, Presidente do Instituto de Ciências Sociais
Manuel Pinto, Director do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade