Nos primeiros quatro meses do ano, 99 jornalistas já pediram subsídios de desemprego. Foi desta forma que Alfredo Maia, presidente do Sindicato de Jornalistas, iniciou a sua intervenção. O dado pareceu ainda mais relevante e assustador, quando o próprio o comparou com os números totais do ano de 2008: 96. A isto, o sindicalista chamou “consequências da crise”.
Atentando no título do painel “Olhares cruzados sobre as práticas de Regulação em Portugal”, Alfredo Maia disse haver três aspectos interessantes a ter em conta: um é a multidão de olhares exteriores sobre a forma como se exerce a profissão; outro é os olhares dos jornalistas sobre si mesmos; por último, os olhares que passam a ser possíveis de construir, estes partilhados por jornalistas e por empresas.
(Alfredo Maia criticou retaliações das entidades à forma de fazer jornalismo. Foto: João Figueiredo)
O presidente do Sindicato salientou que a profissão de jornalista é das mais escrutinadas em Portugal e que esse escrutínio é feito de muitas formas. As pessoas “ao comprarem este jornal e não aquele, já escrutinam o trabalho do jornalista, as pessoas que são objectos de notícia, podem exercer o direito de resposta e estão a escrutinar”.
Alfredo Maia acrescentou ainda, a retaliação que as entidades fazem em relação à forma como se faz jornalismo, este um escrutínio ilegítimo, assim como o recurso aos tribunais, onde os crimes cometidos pelos órgãos de comunicação têm pena agravada e a intervenção de outras entidades com poder de regulação (ERC, por exemplo), também são formas de escrutínio.
O sindicalista afirmou que “o desenvolvimento de redes de comunicação alternativa são outra forma de escrutínio”. Este ponto, é uma espécie de “Revolta dos Escravos”, porque estes se sentem descontentes com os media e procuram recolher eles a informação, sendo mediados por essas redes.
Alfredo Maia referiu que houve uma evolução na Comissão da Carteira Profissional por força da revisão do Estatuto do Jornalista. Segundo o presidente do Sindicato, esta passou a ter competências disciplinares: “foi criada uma secção disciplinar e foi aprovado o regulamento”, que entrou em funcionamento no passado Outono, não contendo, até agora, muitas queixas.
(Primeira sessão da tarde debateu os "Olhares cruzados sobre as Práticas de Regulação em Portugal”. Foto: João Figueiredo)
E quanto ao futuro do Conselho Deontológico? Terá este órgão um futuro? “O Conselho Deontológico tem todo o futuro”, garantiu, explicando que existem vários motivos para isso: “a Comissão da Carteira não esvazia o Conselho Deontológico, até porque é um órgão dentro do Sindicato; o Conselho continua a ser um órgão conhecido e representativo” em termos, por exemplo do sigilo profissional, garante que o que a lei do Processo Penal consagra ao jornalista seja cumprido; outro dos motivos é que o Conselho é a matriz identitária única do Sindicato dos Jornalistas. No dia em que perdesse o Conselho Deontológico, passava a ser como os demais sindicatos.
Quanto à auto-regulação no sector, Alfredo Maia falou numa tentativa de experiência de Conselho de Imprensa, terminando, assim, a intervenção. Isso levava ao “levantamento e avaliação das respostas de auto-regulação existentes e ao levantamento das necessidades do sector”.
(Texto: Claúdia Fernandes)
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